"PAU DURO CORAÇÃO MOLE" reúne um conjunto de quatro artistas - Christophe dos Santos, João Gabriel, Rui Palma e Thomas Mendonça - cujas obras abordam e refletem diferentes questões queer, de sexualidade e género. Esta exposição fala sobre sexo, amor, amor sem sexo e sexo sem amor. Fala de sensibilidade e de beleza. Fala de brutalidade, de força, de resistência, de militância.
"Чеченская мода" ("Chechenskaya moda" do russo: moda Chechena) é um vídeo-performance cujo objetivo é destacar os invisíveis, aqueles que não podemos ver, que não queremos ver. O estilo vintage - aplicado ao vestuário, mobiliário e peças decorativas - corresponde a uma estética oriunda das décadas compreendidas ente 1920 e 1960. Será que as autoridades chechenas demonstram bom gosto restaurando a electrocussão como tratamento? Na verdade, é difícil imaginarmos que tais actos, que constituem uma violação tão grave dos direitos humanos, ainda sejam possíveis em 2017. Recorda-nos que o ódio contra a comunidade LGBTQ+ persiste, podendo sempre intensificar-se e/ou enraizar-se profundamente na nossa sociedade. É a partir desta pesquisa que Christophe decide estetizar essa nova moda chechena. No vídeo, existe a intenção de camuflar o seu corpo unindo-o com a parede, tornando-o parede. Transformar-se num desses pequenos fantasmas, fazer desses choques eléctricos uma dança, dessa pulsação um canto. Ser sensual, sexual, desgraçado, condenado. Ser livre.
Acontece tudo muito naturalmente na pintura de João Gabriel, a única e simples intenção é a de representar o corpo masculino - porque é o corpo masculino que, para João, é erótico. A pornografia aparece, nesse sentido e em primeiro lugar, porque há nos filmes dos anos 70/80, uma beleza e uma força erótica que os filmes recentes perderam. Mas a pornografia não é de todo a bengala teórica deste trabalho. O assunto central é o erotismo , e mais concretamente, a representação das relações de desejo entre rapazes e do próprio desejo que leva João a pintar o que pinta.
“In the darkroom beware of pickpockets” (do inglês: "No quarto escuro, tenha atenção aos carteiristas") é um aviso que costuma estar à entrada de espaços de cruising. Nesta série, Rui Palma ilumina quartos escuros, fotografando bares, discotecas, saunas, ruas, locais de engate e outros lugares onde corpos se envolvem em rituais de sedução, se exibem ou se querem confundir com a sombra. Na série são explorados temas como a sexualidade, o género e a identidade.
"SRY NOT SORRY" baseado no gene SRY (do inglês Sex-determining Region Y) que é a região do cromossoma Y que determina o desenvolvimento dos genitais masculinos nos mamíferos terrestres (marsupiais e placentários), e da expressão "Sorry, but not sorry" (outra vez do inglês: "Lamento, mas não lamento") provida de sarcasmo num pedido de desculpas pouco sincero ou numa situação na qual não podemos assumir qualquer culpa pois não existe maldade ou sequer poder de decisão na acção pela qual pedimos perdão. Trata-se de uma série de esculturas inspiradas nos órgãos sexuais masculinos, representando uma panóplia de possíveis falos estilizados a meio caminho entre um pénis futurista e um dildo disfuncional. São seres autónomos do resto da anatomia humana. Têm mamilos, caras e orifícios, têm alma, ideias e sistema respiratório. Parecem bonecos, coelhos e cactos, parecem sex toys. São bege, salmão e cor-de-rosa, uns mais claros que outros, alguns são dourados.
Exposição colectiva de Christophe dos Santos, João Gabriel, Rui Palma e Thomas Mendonça Com curadoria de Thomas Mendonça, Galeria Foco (2017)