Esta exposição foca numa das personalidades mais controversas do cinema independente norte-americano, Harmony Korine - skater, artista, argumentista, e acima de tudo realizador – que redefiniu e baralhou questões de género e sexualidade, e levou o conceito de queer a novos limites. Assinou a sua rampa de lançamento com o argumento de Kids (1995), dirigido por Larry Clark. Estreou-se na realização com Gummo (1997), indiscutivelmente trashy, seguindo-se novos sucessos, nomeadamente com o realismo mais ficcional de Mister Lonely (2007), que foge um pouco ao panorama geral da sua filmografia. Mais recentemente, alinhou-se numa estética muito pop e bastante próxima de alguns videojogos, com Spring Breakers (2012) e The Beach Bum (2019).
Como disse o próprio Korine numa entrevista durante a sua retrospetiva no Centre Pompidou (Paris, 2017), “Sem receio de criar o caos”, onde a conjugação da obra plástica de Andy James, Dylan Silva, Karine Rougier, Filippo Fiumani e Rui Palma, pretende representar e elogiar alguns aspetos da sua obra cinematográfica.
O pop, o kitsch, o trash, o falso realismo, o imaginário, o delírio e a poesia, todos cabem no universo de Korine que se apresenta como o reverso da moeda do sonho americano, no qual o quadro estético se constrói em torno de uma sociedade marginalizada, teoricamente livre e decadente. A representação, por vezes mágica ou surreal, e quase sempre poética de uma juventude tão paradoxalmente complexa e frívola, consumista e sonhadora. O retrato cru desta mascarada hedónica, profunda, efémera, mas eternamente suspensa que tanto nos aplicamos em formular, abater e edificar novamente.
Exposição Coletiva de Andy James, Dylan Silva, Karine Rougier, Filippo Fiumani e Rui Palma Curadoria de Thomas Mendonça para o Festival Internacional de Cinema Queer Lisboa 22, Galeria Foco (2019)